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A Estrutura Física da Sala Agrupada no Ensino Fundamental

Excerto do texto “A Sala Agrupada na Educação Fundamental”, de Edimara de Lima

Montessori não estabeleceu parâmetros de tamanho do espaço físico ou do número ideal de alunos por sala, mas a proposição da UNESCO para estes dados tem sido considerada pelas escolas montessorianas ao redor do planeta. No Ensino Fundamental consideram-se três metros quadrados por aluno e um orientador a cada quinze alunos. Uma sala com 180m² e quatro orientadores funciona tão bem quanto a de sessenta metros com dois orientadores. Os grupos maiores contêm maior diversidade e aí está a sua riqueza, a questão se resume a uma equação matemática de relação entre espaço físico, número de alunos e número de orientadores.

A sala deve ser arejada e com iluminação natural, sempre que possível. Olhar por uma janela que deixa vislumbrar um jardim ou uma paisagem agradável é inspirador e relaxante durante o período de trabalho.

O espaço físico deve ser imaginado como uma grande sala de estudos e não como uma “sala de aula”; na sala montessoriana não existe “frente e fundo”, mas o ambiente é único e harmonioso.

A biblioteca é o item de maior importância, pois dela advirão as fontes de informação e de lazer para as atividades desenvolvidas. Jornais e revistas devem fazer parte deste acervo, pois a linguagem jornalística é bastante apreciada por crianças e jovens. Acervo de documentários e de filmes coerentes com os interesses e necessidades da faixa etária do agrupamento devem ser integrados à biblioteca. Poltronas e cadeiras confortáveis para a leitura individual devem integrar o ambiente.

Hoje o computador conectado à Internet é parte integrante do ambiente de pesquisa assim como outros recursos da mídia: datashow, aparelhos de som e televisão com acesso individual e de pequenos grupos –o uso destes com grandes grupos podem ser feito em auditórios ou salas específicas.

Cores suaves, plantas, aquários e quadros dos grandes mestres da pintura clássica, moderna e contemporânea propiciam o prazer visual de um ambiente acolhedor e que inspira o trabalho, a convivência, a reflexão individual e coletiva.

A sala agrupada montessoriana no Ensino Fundamental reproduz o conceito das modernas bibliotecas; possui ambientes distintos que atendam às necessidades dos diferentes tipos de trabalho que se realizam no seu cotidiano.

Materiais de uso coletivo prevalecem sobre os individuais, pois os conceitos de cidadania e solidariedade se constroem na vivência diária. O material individual se restringe ao mínimo necessário como cadernos ou fichários.

O ideal é que estes materiais sejam ofertados pela estrutura da escola e sua gama deve ser altamente diversificada.

As mesas devem possibilitar agrupamentos para os trabalhos de grupo, mas devem ser de tamanho adequado para conter o material de trabalho; pequenas escrivaninhas propiciam a privacidade necessária ao trabalho individual e são práticas para serem reunidas nas diferentes formas dos grupos que se constituem na realidade diária.

Os professores possuem mesas idênticas as dos alunos e sua posição no ambiente não devem ser de destaque; o orientador é um dos integrantes do ambiente e sua autoridade vem da postura e não da sua localização física no ambiente.

A manutenção cotidiana do ambiente deve ser feita pela comunidade da classe, que deve se responsabilizar pela limpeza e organização. Todos são responsáveis por tudo, este é o lema norteador das atividades da sala agrupada.

O tamanho do mobiliário deve ser adequado aos usuários da sala, uma agrupada que atenda crianças de seis a nove anos deve ter alturas de mesas e estantes diferentes da agrupada que atende crianças de nove a doze. Esta noção tão simples e aparentemente óbvia, que deveria ser regra para qualquer escola de qualquer metodologia, dificilmente é encontrada na maioria das instituições, onde os menores ficam desconfortáveis em cadeiras e mesas altas e os mais velhos não cabem nessas mesmas cadeiras e mesas, pois se utiliza a média de um universo com medidas muito distantes entre si.

Os procedimentos de cuidado com o ambiente devem fazer parte do planejamento e são um bom investimento na aquisição de hábitos, habilidades e posturas. Não devem ser vistos como “perda de tempo” e por isso merecem até constar das avaliações da sala e da instituição. O ambiente merece ser estudado e preparado com a mesma atenção que se destina às “áreas nobres” do currículo, muitas vezes o fracasso ou a dificuldade estão ligados a falhas neste setor. Arrumar a classe é tarefa dos professores e não da equipe de faxina (arrumar é diferente de limpar), pois só os profissionais sabem da importância de determinados detalhes.

O ambiente é fator fundamental no Sistema Montessori, pois é ele que oferece um dos contextos essenciais à aprendizagem.