Para as famílias

Montessori em casa

RECEBENDO NOSSOS FILHOS À MANEIRA MONTESSORI.

Hoje em dia é muito comum encontrarmos na mídia muitas referências aos “quartos montessorianos”, cantinhos montessorianos pela casa, atividades montessorianas em casa… Mas o que é preciso mesmo é se preparar para ser “uma família montessoriana”!

Desmond Perry, fala desse assunto em uma de suas publicações e diz que isto começa no momento que se sabe da vinda de um bebê. “Estamos preparando os alicerces e  somente alicerces sólidos garantem uma boa construção”. E é na gestação que a família começa a se preparar para receber à maneira Montessori o novo membro da família; afinal a casa – e não só o quarto – pertencerão a ele também como  membro dessa família!

Ser montessoriano implica um novo olhar sobre a EDUCAÇÃO: o olhar que vê por inteiro cada pessoa. Para Montessori o processo de educar caminha lado a lado com o desenvolvimento natural das crianças e o papel do adultos é o de cuidar, inciando essas ações durante a gestação, em uma atitude que ela chama de “ajuda à vida”. Eu entendo ajuda à vida como a responsabilidade dos adultos de oferecerem a esse ser jovem, boas condições de desenvolvimento. Ainda na gestação, os cuidados com a saúde da mãe podem favorecer um nascimento tranquilo e um bebê saudável. Uma boa alimentação é imprescindível pois as pesquisas mais modernas informam que os bebês desenvolvem o paladar já no útero materno.

E não e apenas essa ajuda que podemos dar a esse ser humano ainda em vida embrionária… Uma boa música também auxilia, a qual fica registrada e acalma o bebê depois do nascimento…

Com tudo isso, finalmente vem a preparação do quarto do pequenino, cuidando para receber o bebê  segundo os valores da família, mas sempre considerando as características da etapa de desenvolvimento da criança.

Para Montessori, em uma de suas máximas,  o papel do adulto é ajudar a criança a fazer sozinha, então pense nisso ao arrumar o quartinho do seu bebê.

Bebês precisam de segurança e de espaço para se movimentarem, de elementos que nutram sua curiosidade natural de acordo com cada etapa da vida sem excessos, na medida!

Os colchões colocados no chão, “tipo futon”, hoje são muito usados, assim como as camas compartilhadas. A escolha depende de cada família, não existe o certo ou o melhor, é preciso haver critérios para a escolha e eles devem ser sempre baseados nas necessidades dos bebezinhos. Busque conhecer sobre como se desenvolvem os bebês, já que eles não vêm com manuais… Há muita leitura interessante para saber como eles são; então busque inteirar-se  para entender e ajudar melhor seu filho .

ABRINDO ESPAÇOS PARA AS CRIANÇAS NA SUA CASA E NA SUA VIDA

Tim Seldin é presidente da ” The Montessori Foundation”, uma organização americana que cuida da formação de professores montessorianos, realiza pesquisas sobre a aplicação do Sistema Montessori e apoia as famílias com publicações conhecidas como a Revista Montessori.

Este texto foi publicado na Revista OMB, com autorização do autor.

Maria Montessori nos ensinou a ver cada criança como um ser único, um embrião espiritual vivo, com possibilidades e pronto para crescer espiritual, moral e psicologicamente.

Ela escreveu:

 “Os seres humanos são lentamente formados. Cada um de nós é ‘feito à mão’, e cada indivíduo é diferente de todos os outros, com seu espírito característico como se fosse uma obra de arte natural. Esse processo leva muitos anos.

A vida interior da criança é um enigma. Só o que sabemos sobre a criança é que poderá ser qualquer coisa, mas ninguém sabe o que será ou o que fará.

O desenvolvimento humano é exatamente como o processo necessário para produzir uma obra de arte, a qual o artista, isolado na intimidade do seu atelier, modifica e transforma antes de levá-la a público. O processo pelo qual a personalidade humana é formada está na obra oculta da personificação.”

Montessori diz que a criança é “ um embrião espiritual”, já que sua formação resultará na construção do adulto que há de ser.

Assim como o embrião humano antes do nascimento, esse embrião espiritual, que é a jovem criança , deve ser protegido de ambientes hostis através do calor do nosso amor e acolhimento.

Os adultos com frequência presumem, equivocadamente, que as crianças desenvolvem seu caráter apenas através dos cuidados e da educação que recebem em casa, ou seja, da “criação”. Acreditamos que podemos moldar a personalidade e o destino de uma criança através de aconselhamento correto e tentativas de guiar seu desenvolvimento.

As crianças trazem consigo a chave para seu próprio desenvolvimento. Suas primeiras tentativas para expressarem sua individualidade são hesitantes e experimentais.

Nossas crianças pensam que nós adultos tudo sabemos e tudo podemos. Essas tentativas são facilmente esmagadas pelas nossas melhores intenções. Nossos esforços para proteger nossas crianças de erros que parecem tão óbvios do nosso ponto de vista tendem a frustrar o seu processo de auto-aprendizado sobre a vida.

Precisamos aprender  a respeitar os esforços da criança para desenvolver uma personalidade independente, porque através desse processo criativo a criança literalmente “molda” o futuro adulto.

 Como pais, é nossa obrigação aprendermos a observar nossos filhos, tentarmos entender suas necessidades e prepararmos em nossas casas um ambiente para eles.

Montessori sentia que os pais, embora agissem com as melhores intenções, muitas vezes faziam escolhas que podiam atrapalhar e frustrar o processo do desenvolvimento global da criança .

O papel principal dos pais é ajudar a criança a amadurecer independente e responsável.

Infelizmente, nós, com frequência, compreendemos mal o que podemos fazer e o que não devemos fazer para realmente facilitar esse processo. Temos tendência a super proteger, não compreendendo que nossos filhos somente podem aprender sobre a vida através da tentativa e do erro, assim como nós aprendemos.

Nosso papel como pais é ajudar nossos filhos a aprender a viver em paz e harmonia consigo próprios, com as pessoas e com o ambiente. Trabalhamos para criar um lar em que eles possam aprender a agir como pessoas independentes, “pensantes”.

Para sermos realmente bem-sucedidos em nosso papel de pais, precisamos tratar nossos filhos com tremendo respeito, como plenos e completos seres humanos que por acaso estão sob nossos cuidados. Eles precisam sentir que podem livremente ser quem e o que são.

Precisamos realmente deixá-los sentir nosso respeito; simplesmente falar não é suficiente. Se eles acreditarem que não estão vivendo à altura das nossas expectativas, que estamos desapontados com as pessoas que estão se tornando, eles poderão ficar emocionalmente marcados por toda a vida. Uma criança que não se sente aceita por seus pais pode somente vagar pela vida, olhando-a de fora como um estranho.

As crianças são extremamente sensíveis ao clima emocional dentro da família. Elas nos amam e basicamente querem que estejamos satisfeitos com elas. Isso não significa que sempre se portarão bem. Toda criança testará as regras e se comportará mal até certo ponto. De fato, muitos atos de mau comportamento são partes normais do seu processo de crescimento.

O mau comportamento das crianças é geralmente sua forma de expressar sentimentos que não entendem e, com nossas respostas, elas gradualmente aprendem como lidar apropriadamente com suas emoções.

Testando os limites, aprendem que realmente nos importamos com certas regras básicas de virtude e de cortesia em nossos relacionamentos. Com esse comportamento, elas dão seus primeiros passos experimentais na direção à independência, tentando demonstrar que nós não as controlamos completamente.

Os pais devem entrar em acordo sobre as regras básicas de sua família e colocarem-nas por escrito onde possam consultá-las.

Ensinem seus filhos a como fazer o que é certo em vez de se concentrarem em suas transgressões.

Sejam consistentes! Se vocês não estiverem dispostos a reforçar uma regra inúmeras vezes, então ela não deverá ser uma regra básica em sua casa.

Nunca me impressionei com o uso de ameaças e de castigos para obrigar as crianças a se comportarem. De acordo com minha experiência, as crianças que reagem a ameaças e ficam abaladas com castigos estão ansiosas para nos agradar e reconquistar nosso amor. Por outro lado, quando as crianças estão zangadas ou reivindicando sua independência, elas geralmente não ligam se são castigadas.

Em casa, assim como na escola, tento concentrar-me em ensinar as crianças a fazerem as coisas corretamente, enfatizando o positivo em vez de usar insultos e irritação.

Não vou enganá-los: nem sempre é fácil.

Acima de tudo, tento nunca fazer perguntas estúpidas aos meus filhos, como “Quantas vezes tenho que lhe dizer…?”, para a qual a resposta apropriada é “Eu não sei, pai. Quantas vezes você tem de me dizer?”. Faça uma pergunta boba e terá uma resposta boba.

Organizando a Casa

O Quarto

“Devemos dar à criança um ambiente do qual ela possa tirar proveito sozinha: um pequeno lavatório só dela, uma escrivaninha com gavetas que possa abri-las, objetos de uso comum que ela seja capaz de utilizar, uma pequena cama em que possa dormir à noite sob um cobertor agradável que ela consiga abrir e dobrar sozinha. Devemos dar-lhe um ambiente em que ela possa viver e brincar; e, então, nós a veremos trabalhando as mãos o dia todo, e esperando impacientemente para se despir e se deitar em sua cama.”     Maria Montessori

Os quartos das crianças devem refletir claramente suas personalidades e interesses atuais.

Muito embora elas baguncem tudo quando estão sozinhas, as crianças pequenas necessitam tremendamente de amor e de um ambiente organizado. Tudo deve estar em seu lugar e o ambiente deve ser organizado de maneira que seja fácil para a criança mantê-lo arrumado e bem organizado.

Teoricamente, a cama da criança pequena deve ser baixa, próxima ao chão, para que lhe seja fácil subir e descer sozinha. Em vez de usar um berço, Montessori recomendava aos pais modificar o quarto para facilitar a segurança da criança e sua independência antecipada. Reflita sobre o uso de um “futon” japonês ou de um colchão colocado diretamente no chão, ou sobre estrado junto ao chão .

Use lençóis com elástico, pois isso facilitará a tarefa de manter a cama arrumada para os maiorezinhos .

Monte em uma parede do quarto em local baixo onde a criança possa facilmente alcançar, um pequeno cabide para seus agasalhos e bonés.

Decore as paredes com impressos artísticos de alta qualidade de crianças ou animais, colocados no nível dos olhos da criança.

Coloque um relógio de parede também no nível dos olhos da criança. Escolha um com mostrador grande e fácil de ler.

Coloque extensões nos interruptores para que a criança possa acender ou apagar as luzes independentemente.

Pendure na parede no nível dos olhos da criança um quadro de cortiça ou similar onde ela possa prender seus trabalhos de arte da escola.

Não use uma caixa para brinquedos. Imagine a bagunça na sua cozinha ou oficina se você simplesmente jogasse todas as suas ferramentas e utensílios em um baú. Use prateleiras baixas para os livros e brinquedos. Tente imitar a aparência da sala de aula da criança.

Note como os professores montessorianos evitam a desordem. Coloque os brinquedos que têm muitas peças em recipientes apropriados, como por exemplo caixas plásticas com tampa, cestos ou uma sacola plástica forte.

Guarde os bloquinhos de Lego em uma bolsa de lona forte com alças, grande e colorida. Costure tiras de velcro para fechar a bolsa. No quarto da criança essa bolsa servirá para guardar os Legos e quando for viajar, fica fácil pegar a bolsa e levá-la.

Certifique-se de que as gavetas da cômoda da criança estejam na altura certa para ela abrir e olhar. Ponha etiquetas nas gavetas: roupas de baixo, meias, etc.

Vasos de flores: incentive as crianças a colher flores nos campos ou no jardim para colocá-las no quarto.

Deixe algum espaço nas prateleiras do quarto da criança para um pequeno “museu natural”, onde ela possa exibir as pedras que encontrar, sementes e folhas interessantes.

A música deve ser um componente importante na vida de todas as crianças. Reserve algum espaço para um sonzinho simples e uma pequena coleção de CDs  e fitas que sejam sempre de boa qualidade .

O Banheiro

O banheiro deve, dentro do possível,  ser preparado para a criança. Ela deve ser capaz de alcançar a pia, abrir a água e pegar sua pasta de dentes e escova sem ajuda.

Deve haver um lugar especial e ao seu alcance para suas toalhas.

Deve haver no banheiro um baldinho com uma escova de banho e uma esponja.

A maioria dos pais dá banquetas para as crianças utilizarem no banheiro, mas banquetas pequenas e “bambas” não fornecem a segurança e o conforto necessários. Esteja atento!

A Cozinha

Separe a prateleira mais baixa da geladeira para uso das crianças. Coloque lá pequenas jarras, frutas e ingredientes para sanduíches e petiscos. Use recipientes  inquebráveis para a manteiga, geleias, queijos ou frios fatiados e pastas. Uma criança de dois anos pode abrir a geladeira e pegar seu próprio petisco previamente preparado ou suco já em uma canequinha ou copo com tampa. Uma criança um pouco mais velha pode servir seu próprio suco e preparar seu próprio lanche.

Ponha os garfos, facas e colheres em uma gaveta baixa.

Coloque em uma parede uma prateleira baixa para pratos, copos, canecas e guardanapos que possam ser usados pelas crianças.

As crianças podem e devem ajudar nas tarefas da casa.

Se lhes for corretamente mostrado, crianças de dois a seis anos realizam prazerosamente, compartilhando e cooperando com os adultos , os cuidados com o ambiente: espanam, limpam o chão, esfregam, escovam, e lustram, e devem ser capazes de fazer isso facilmente em casa e na escola.

É perfeitamente razoável pedir às crianças mais velhas que arrumem seus quartos e ajudem nas tarefas domésticas.

Arranje um cesto para as roupas sujas da criança. Peça-lhe para levá-lo à lavanderia da casa regularmente.

Dobrar toalhas e guardanapos é uma boa atividade para ensinar à criança pequena.

Na cozinha, programe pequenas tarefas na preparação das refeições e na conserva.

Conclusão

Concentre-se em fortalecer os laços familiares. Nossos filhos precisam ser respeitados como seres humanos independentes.

Amor não é o bastante: o respeito que damos às crianças e insistimos que elas nos deem em retorno é a chave. Não lhes peça para ganhar seu respeito e confiança, assuma desde o início que elas merecem ser tratadas com respeito. Respeito é o propulsor essencial que mantém a máquina do relacionamento familiar funcionando suavemente.

Às vezes os pais tentam ser os “melhores amigos” das suas crianças, o que pode vir a ser um sério engano.

Amigos elas conseguem nas ruas, mas pais elas só têm dois. Se formos apanhados tentando fazer que nossas crianças “gostem” de nós, acharemos difícil confrontá-las quando saírem da linha (o que farão cedo ou tarde). Zangar-se com os pais é parte do crescimento. É como criamos uma pequena distância entre nós e nossa infância. Teoricamente, pais são amados, respeitados e pessoas em quem se pode confiar, mas não amiguinhos ou companheiros de brincadeiras.

Fale o que a criança tem de melhor em seu interior. Tente chamar de seu interior o jovem adulto que um dia tomará seu lugar. As crianças, assim como todo o mundo, tendem a viver à altura das nossas expectativas ou do nosso desrespeito.

Paciência , neutralidade e perseverança são ingredientes indispensáveis para ajudarmos nossos filhos e, de quebra, nos exercitarmos e nos tornarmos pessoas melhores .

As crianças são investidas de poderes não conhecidos, que podem ser as chaves de um futuro melhor.

Maria Montesori