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O Grande Plano Cósmico e os Agentes Cósmicos

Trecho do texto “A Visão Cósmica: O Plano Cósmico, e a Educação Cósmica de Maria Montessori – por Camillo Grazzini, Paris, 2001

O Grande Plano Cósmico

Em seu livro: O QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE SEU FILHO, MONTESSORI fala do plano cósmico nesses termos:
“Há um plano no qual todo o Universo está submetido. Todas as coisas, animadas e inanimada, estão subordinadas a esse plano. Há também modelos para todas espécies de coisas vivas e não vivas. Esses modelos são consoantes a um plano universal. Tudo na natureza, de acordo com suas próprias leis de desenvolvimento, se aproxima do modelo de perfeição que lhe é aplicável. Há uma pulsação em cada indivíduo de cada espécie para se adequar ao modelo apropriado. É igualmente inevitável que todos os modelos entrem no grande plano. Do grão à árvore madura, do ovo à galinha adulta, do embrião ao homem maduro, a luta para encarnar um modelo é perceptível. Compreender e apreciar como todas as criaturas e todas as coisas evoluem, numa variedade infinita de modelos, com uma impulsão magnífica para se submeter ao plano central do Universo; requer uma visão mais dilatada.

É certo que a tendência de proteger a futura geração e de conservar a espécie está entre os mais fortes impulsos na natureza. Mas há um objetivo mais elevado que a proteção das gerações futuras ou preservação da espécie. Esse objetivo está além do fato de crescer segundo um modelo e de viver de acordo com os instintos. Esse objetivo mais elevado é de se adaptar a um plano superior através do qual as coisas estão em movimento.

Pode-se entender mais claramente esse “ objetivo elevado” se considerarmos o mundo como uma grande casa, uma casa cósmica, na qual todos trabalhos necessário para mantê-la são divididos e compartilhados. Entendido desta forma, expresso dessa maneira, o plano cósmico consiste de fato numa estrutura integra ou organização cósmica, na qual todos os seres têm tarefas a conduzir, seus planos cômicos a concluir.

Se examinarmos os trabalhadores cósmicos numa grande escala veremos agentes inorgânicos como o sol ( principal fonte de energia), a Terra ( também as rochas, e a terra, o solo), a Água e o ar, todos agem e trabalham de acordo com suas leis cósmicas ou suas natureza inerentes ( de acordo com o pensamento de Empédocles, ela constitui as raízes e as fontes de tudo e de cada coisa). A seguir há os grandes agentes orgânicos cósmicos, as plantas e os animais, que graças à sensibilidade deles e seus instintos, agem também trabalham de acordo com suas leis cósmicas ou suas naturezas. Finalmente, há o ser humano, sempre em suas duas manifestações: O adulto e a criança, a criança e o adulto.

Os Agentes Cósmicos

Há agentes cósmicos a nossa volta, dos quais também fazemos parte, e eles constituem o mundo vivo e o não – vivo.
Há a energia, a luz, o calor do Sol. Há a litosfera: o solo mesmo sobre o qual nos sustentamos e onde construímos nossas casas; a terra ( o solo) com que sujamos nossas mãos, onde as sementes das plantas podem fixar raízes e à qual, quando morremos, retornamos; a terra é um grande vaso receptor – um recipiente para os mares e os oceanos. Há a água, a hidrosfera: O grande elemento constituindo a superfície de nosso planeta e também de nossos corpos; a fonte da vida. Há a atmosfera, o ar: a respiração da vida.

Depois, também há esfera da vida: as plantas os animais e os seres humanos, os agentes cósmicos de forma orgânica, os que compõem a biosfera. Depois, com a espécie humana, e apenas ela, temos a psicosfera, porque “alguma coisa nova vem ao mundo com a chegada do homem, uma energia de vida psíquica, diferente de todas as que já se haviam expressado”, uma nova energia cósmica.

MONTESSORI nos diz que todos os agentes cósmicos são guiados por uma inteligência universal, que utiliza o fluido vital (horme), essa impulsão, esse pulso ou caminho em direção à evolução, o funcionamento individual, e a completa realização de si. Se é assim, a ideia de MONTESSORI de finalidade e de fenômeno sintrópico ( no qual vemos um fenômeno (processo) conduzido do que é simples, do homogêneo, ao complexo e ao diferenciado e depois ao que é sempre mais e melhor organizado, implica ( envolve) também o mundo não vivente). E tudo isso me lembra, de certa forma, uma posição individual no entanto diferente; isso me lembra a visão possante do mundo de Theilhard de Chardin.

 

Tarefa Cósmica e Trabalho Cósmico

Cada a agente, grande ou pequeno, tem seu próprio mandato ou sua própria missão a cumpri. Isso constitui sua função particular no plano cósmico, sua tarefa específica, tarefa que deve ser conduzida de forma ininterrupta e incessante. Embora a possibilidade de levar a bom termo esta tarefa dependa também do trabalho de outros agentes. Em outras palavras, há uma organização cósmica do trabalho, que implica necessariamente numa especialização e numa visão do trabalho, numa colaboração entre todos os trabalhadores e agentes, e consequentemente de inumeráveis relações e interdependências.

Com a fábula cósmica de MARIA MONTESSORI “Deus que não tem mãos” vemos a chegada dos grandes agentes cósmicos inorgânicos, não vivos, assim como as leis de suas existências. Vemos, no trabalho e nas atividades que seguem a fábula, como esses agentes interagem e funcionam juntos em todas as suas relações e combinações possíveis, do Sol com sua energia e o planeta terra inteiro, no ciclo e no papel representado pela água com ajuda do Sol, do ar e da Terra. A atividade infindável e o labor incessante desses agentes e explicam tantos fenômenos que nos são familiares: o dia e a noite, o verão e o inverno, a chuva e o vento, a neve e o gelo. Mas o trabalho deles e se labor também explicam os acontecimentos mutáveis do nosso globo, onde tudo na realidade, é uma mudança sem fim: lá onde o vento e a água cavam e esculpem a terra que cai e que se reconstrói apenas para tomar a cair em ciclos sem fim, e lá onde as fronteiras entre a terra e água chegam a mudar. E em todo esse trabalho incessante, esses agentes se comportam, e só podem se comportar segundo suas naturezas, segundo suas leis cósmicas, as leis que lhes deram. Exprimamos isso nos termos da fábula de MONTESSORI: é como se esses agentes respondessem ao apelo de Deus, Deus que não tem mãos, e cada um deles, o Sol, o Ar, a Terra e a Água, murmuram: “Eu escuto meu Deus, será feito. Eu obedeço’’.
Na segunda fábula cósmica de MONTERSSORI, a História da vida, vemos a chegada da vida com leis próprias. Vemos como a vida aparece para salvar a ordem e a harmonia do mundo, tendo em vista que os agentes não vivos, livres por eles mesmos, não podem manter a ordem cósmica e ameaçam criar um caos. MONTESSORI vê a esfera da vida, a biosfera, como uma parte íntima do corpo da terra; e a função da vida é crescer com a Terra, trabalhar não apenas por ela mesma, mas também pela conservação e pela transformação da Terra. Assim, a Vida também é uma das forças criativas do mundo, uma energia com suas leis específicas e particulares.

O grande agente da vida incluir, certamente, muitos seres, ao mesmo tempo plantas e animais, e MONTESSORI se refere a esses agentes como “motores de Deus” porque é o que são. Tomemos por exemplos os diatomes. Essas algas minúsculas (microscópicas – unicelulares ou coloniais) extraem a sílica da água para construírem sua “conchas”. A cobertura de sílica depositada na parede da concha forma desenhos “esculpidos” que variam de acordo com a espécie e há milhares e milhares de espécie. Encontram-se essa minúsculas conchas (caramujos) reunidas ao milhares em extensões de centenas de metros de espessura, sobre regiões antes cobertas de mares pouco profundos, e sobre estes vastos depósitos se formam grandes quantidades de diatomes que cobrem grandes partes do leito do oceano.

Peguemos, por exemplo, os corais. Esses extraem o carbonato de cálcio da água, e embora sejam minúsculos, constroem uma nova, terra e protegem as terras da água. Quanto desse carbonato de cálcio foi extraído por essa armada de pequenos trabalhadores para construírem a “Barreira de Recife” Austrália que se estende por mais ou menos 2000 km?

E o que dizer das plantas verdes que purificam constantemente o ar que nós respiramos graças a seu incessante trabalho de fotossíntese? MONTESSORI dizia que a vaca é um dos animais terrestre mais importantes, porque seu único dever no plano cósmico é manter os prados em boas condições, e é o que ela faz: ela corta a relva, amassa o solo e o fertiliza, tudo ao mesmo tempo. E o que dizer dos abutres? Fiéis a sua função de limpar a terra das coisas perigosas para os outros Seres, eles comem a carniça e corpos em putrefação. E o que dizer da minhoca. Ela se enfia pela terra e trabalha como o ‘pequeno de Deus’ ( para usar a expressão de Darwin), arejando o solo e o deixando mais fértil que antes. Poderíamos dar muitos outros exemplos. Mas já demos o suficiente para entender o que quer exprimir MONTESSORI quando ela diz: “Todas as coisa na natureza têm um modelo a que elas seguem e aderem a um plano no qual elas se engajam para formar um Universo equilibrado. Elas funcionam para a preservação de um todo, de acordo com um plano, e para preservação da espécies de acordo com um modelo: assim se criam a ordem e a harmonia na natureza.

 

Papel Cósmico dos Seres Humanos

Para o que se refere ao seu humano, primeiro agente espiritual, a tarefa dele, MONTESSORI faz uma distinção entre o adulto e a criança já que seus papéis são bem diferentes, e então, seus trabalhos também.

A tarefa cósmica da criança é de construir ela mesma o ser humano, construir um homem que vai erigir a paz, homem adaptado ao mundo em que vive. A criança, desde tenra idade está imbuída dessa responsabilidade, o trabalho mais importante desenvolvido (caracterizado) durante uma vida, é aquela que, tornando o ser humano indefeso que é o recém- nascido, até mesmo a criança, que não apenas manifesta as característica de sua espécie, mas também pertence ao seu próprio grupo e que é também ela própria.

Um tão grande trabalho de criação e de construção além das capacidades das outras Eras da vida, só pode se realizar graças ao poder do que MARIA MONTESSORI chama de “Mente Absorvente”, guiando essa curiosidade de duração limitadas que MONTESSORI intitula “períodos sensíveis”, conduzidos por uma energia criativa inacreditável. Usando suas mãos, esse dom humano maravilhoso, a criança explora seu mundo, desenvolve seus poderes mentais, constrói a si mesmo, e finalmente constrói o Ser humano adulto. Cada um de nós é, como o diz MONTESSORI: “A criança da criança” que fomos um dia, variação, se quiserem, do verso de Wordsworth: “A criança é o pai do homem” *(5)

Por outro lado, o adulto cuja a tarefa cósmica é de construir para a conservação e desenvolvimento da Terra- tarefa de criação – modifica e transforma o ambiente, construindo um mundo sempre novo. “Um ambiente super natural e civilizado” que além e aquém da natureza. Em outros termos, os adultos constroem uma civilização em constante evolução que implica numa modificação contínua e num enriquecimento de seu “território espiritual”. Assim, MARIA MONTESSORI escreveu, em algumas conferência ainda não publicadas, que ela proferiu em 1950: “A chegada do Homem criou uma psicosfera sobre aTerra. Que tarefa tem ele a cumprir? Por que devemos compreender que os homens também têm uma tarefa diante da Terra onde vivem. A chegada dos homens significa uma nova força, cuja função é prolongar o progresso da evolução. Devemos observar que o Homem tem certas capacidades que podem estimular o progresso sobre a Terra. Seu trabalho científico, gradualmente, desvenda os segredos da natureza, e cada vez mais os usa, criando assim novas possibilidades. Sua habilidade técnica valorizou as forças da natureza de maneira a construir uma maquinaria das mais complicadas. O trabalho do homem desenvolveu produtos agrícolas desconhecidos da natureza primitiva. De forma evidente, o Homem também tem uma tarefa ativa sobre a Terra (…)”

E ela prossegue:

No entanto, o Homem falhou no fato de não ter visto que existe um domínio a explorar na humanidade mesma. Chegamos a um estágio onde devemos cultivar a energia humana. Até agora, concentramos nossa atenção essencialmente nas invenções e nos trabalhos humanos.

Agora devemos conectá-los com o Homem, que os inventou. O Homem deve tomar um lugar central na vida”. MONTESSORI conclui sobre a importância da criança e da educação no avanço da humanidade e a evolução da civilização. “Podemos realizar isso graças à criança.

Mas a criança não pode fazê-lo sozinha, só pode adquirir uma forma de personalidade mais elevada com a ajuda do adulto. A criança tem um comportamento fixo, e é por isso que precisa de um guia para não se desviar”.

Atualmente não nos basta considerar a criança pequenina, é preciso olhar para a criança mais velha, a criança de 6 (seis) a 12 (doze) anos que se encontra no 2o estágio de seu desenvolvimento. E MONTESSORI nos diz:

Podemos melhorar a raça humana ajudando a criança a construir sua personalidade e a adquirir sua liberdade moral. Um dos meios para atingir isso é a educação cósmica, que dá à criança uma orientação e uma diretriz na vida. Porque essa educação tem por objetivo preparar a criança para a função que a aguarda na sua vida adulta, de forma que sinta à vontade em seu próprio ambiente. No qual terá que viver mais tarde como um ser independente.